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Cód. Produto: 1775192

O que é que ele tem

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O João era uma criança normal. Pra mim e pra minhas irmãs não havia nada de errado com ele, tirando o fato de que tomava remédios todos os dias e se submetia regularmente a cirurgias que abriam seu crânio. Ele tinha as mãos diferentes, mas os seus de dos juntos pareciam pra nós mais uma qualidade do que um defeito: pensávamos que deviam servir para algumas coisas, como nadar ou agarrar bolas no futebol. Em alguns sentidos, era um super-herói: João pulava da cama às seis da manhã pra remar, sabia de cor todas as linhas de ônibus e seus trajetos, comia mais que todos nós juntos e não engordava. Nunca ouvi, lá em casa, a palavra deficiência. Ouvíamos muito a palavra diferença, foneticamente tão parecida, mas semanticamente tão distante. Foi na rua que percebi que meu irmão era “deficiente”. Achava estranhíssimo quando os outros achavam o João estranhíssimo. Foi só depois de me perguntarem que doença ele tinha que fui perguntar à minha mãe que doença ele tinha. Foi aí que aprendi a expressã o síndrome de Apert, para responder a todos que perguntavam: “O que é que ele tem?”. E as pessoas então ficavam mais calmas, mesmo sem fazer ideia do que isso significava. Também tinha que explicar para as crianças que não era contagioso, que elas po diam brincar e abraçar, que elas não precisavam fugir ou se esconder, que ele não mordia. Nem sempre funcionava. Foi aí também que conheci a outrofobia, essa doença tão comum e tão entranhada. Difícil apresentar o livro da sua mãe. Falei isso pra aut ora: ninguém vai levar a apresentação a sério, vão achar que eu só tô falando porque sou filho. Vou tentar ser imparcial: este livro é uma obra-prima. Droga. Desisto. Ponderando, talvez a obra-prima não seja o livro, mas a vida da minha mãe e sua lut a cotidiana, que começa reprimida por freiras sadomasoquistas (redundância?) e passa por loucuras que nem eu sabia, porque minha mãe odeia autocomiseração. Pode ficar tranquilo: se você acha que vai encontrar neste livro lamúrias e autopiedade, você não conhece a minha mãe. Se você quer uma história de superação, desista. Já vou logo adiantando: no fim tudo dá certo. Porque no começo também dá. Esta é, antes de mais nada, uma história de amor. Não qualquer amor, mas o amor mais difícil, e o mais raro. O amor pela diferença. Não confundir com deficiência. Ele, só ele, salva. Gregorio Duvivier
Autor(es):
Olivia Byington
Dimensões:
1,5cm x 14,0cm x 21,0cm
Páginas:
184
Acabamento:
Brochura
ISBN:
9788547000110
Código:
1775192
Código de barras:
9788547000110
Edição:
1
Data de Edição:
08/06/2016
Idioma:
Português
Peso:
266
  • Informações do produto Seta - Abrir
    O João era uma criança normal. Pra mim e pra minhas irmãs não havia nada de errado com ele, tirando o fato de que tomava remédios todos os dias e se submetia regularmente a cirurgias que abriam seu crânio. Ele tinha as mãos diferentes, mas os seus de dos juntos pareciam pra nós mais uma qualidade do que um defeito: pensávamos que deviam servir para algumas coisas, como nadar ou agarrar bolas no futebol. Em alguns sentidos, era um super-herói: João pulava da cama às seis da manhã pra remar, sabia de cor todas as linhas de ônibus e seus trajetos, comia mais que todos nós juntos e não engordava. Nunca ouvi, lá em casa, a palavra deficiência. Ouvíamos muito a palavra diferença, foneticamente tão parecida, mas semanticamente tão distante. Foi na rua que percebi que meu irmão era “deficiente”. Achava estranhíssimo quando os outros achavam o João estranhíssimo. Foi só depois de me perguntarem que doença ele tinha que fui perguntar à minha mãe que doença ele tinha. Foi aí que aprendi a expressã o síndrome de Apert, para responder a todos que perguntavam: “O que é que ele tem?”. E as pessoas então ficavam mais calmas, mesmo sem fazer ideia do que isso significava. Também tinha que explicar para as crianças que não era contagioso, que elas po diam brincar e abraçar, que elas não precisavam fugir ou se esconder, que ele não mordia. Nem sempre funcionava. Foi aí também que conheci a outrofobia, essa doença tão comum e tão entranhada. Difícil apresentar o livro da sua mãe. Falei isso pra aut ora: ninguém vai levar a apresentação a sério, vão achar que eu só tô falando porque sou filho. Vou tentar ser imparcial: este livro é uma obra-prima. Droga. Desisto. Ponderando, talvez a obra-prima não seja o livro, mas a vida da minha mãe e sua lut a cotidiana, que começa reprimida por freiras sadomasoquistas (redundância?) e passa por loucuras que nem eu sabia, porque minha mãe odeia autocomiseração. Pode ficar tranquilo: se você acha que vai encontrar neste livro lamúrias e autopiedade, você não conhece a minha mãe. Se você quer uma história de superação, desista. Já vou logo adiantando: no fim tudo dá certo. Porque no começo também dá. Esta é, antes de mais nada, uma história de amor. Não qualquer amor, mas o amor mais difícil, e o mais raro. O amor pela diferença. Não confundir com deficiência. Ele, só ele, salva. Gregorio Duvivier
  • Especificações Seta - Abrir
    Autor(es):
    Olivia Byington
    Dimensões:
    1,5cm x 14,0cm x 21,0cm
    Páginas:
    184
    Acabamento:
    Brochura
    ISBN:
    9788547000110
    Código:
    1775192
    Código de barras:
    9788547000110
    Edição:
    1
    Data de Edição:
    08/06/2016
    Idioma:
    Português
    Peso:
    266